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sábado, 21 de janeiro de 2012

Assassinos se autohomenageiam...

Mãe denuncia que PM rendeu homenagem a
policial acusado de assassinar o seu filho

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Maria das Graças Nacort diz que o PM Erivelton de Souza Pereira foi homenageado pela Rotam após ser condenado pela Justiça a 18 anos de prisão pela morte de seu filho, Pedro Nacort 
 
Maria das Graças Nacort, presidente da Associação de Mães e Familiares Vítimas da Violência (Amafavv) e mãe do jovem Pedro Nacort – assassinado no Centro de Vitória em junho de 1999 – afirma que o soldado PM Erivelton de Souza Pereira, condenado pela Justiça a 18 anos de prisão pela morte de seu filho, foi homenageado como “destaque operacional” do 1º Pelotão da Ronda Ostensiva Tática Motorizada (Rotam). A homenagem reconhece o bom desempenho do soldado no 3º trimestre de 2011.

A mãe de Pedro, que foi baleado com 22 tiros à queima roupa, apresentou documentos que comprovam que o policial, conhecido como “Diabo Loiro”, recebeu a homenagem posteriormente à condenação da Justiça. “O certificado emitido pela PM é do dia 19 de dezembro de 2011. O júri do meu filho que condenou o Erivelton a 18 anos de prisão em regime fechado foi concluído no dia 5 de novembro, ou seja, mais de 40 dias depois”.

A militante lembra ainda que a condenação de Erivelton foi amplamente divulgada pela imprensa. “Não é possível que a Polícia Militar desconhecesse a condenação no ato da homenagem. Saiu em tudo o que foi lugar. Estou muito revoltada. Depois disso, fiquei ainda mais descrente com a Justiça. É inaceitável que o assassino que matou o meu filho continue solto e ainda receba homenagens da instituição que deveria proteger a população”, desabafou.

A presidente da Amafavv exibiu também o convite para a “Cerimônia de Premiação do Destaque Operacional da Unidade – 3º e 4º trimestres de 2011”. No convite, o próprio comandante geral da PM, coronel Ronalt Willian de Oliveira, juntamente com o tenente coronel Laércio Oliveira, comandante da Rotam, convoca os familiares para participarem da cerimônia, que aconteceria no dia 19 de dezembro de 2011, no auditório do Quartel do Comando Geral da PM, em Maruípe, Vitória.

À época, na rede social Facebook, a mulher do PM divulga a homenagem prestada pela Corporação ao marido. Os amigos que visitam o perfil deixam elogios parabenizando Erivelton pelo reconhecimento da PM. Diz um dos posts: “Caramba, me arrepiei a ver tal homenagem, pois sei da dignidade de quem a recebe...”; outro internauta comenta: “Merecido...guerreiro...”

A reportagem de Século Diário entrou em contato com Assessoria de Comunicação da PM na tarde desta quinta-feira (19) para confirmar a homenagem prestada a Erivelton. Foi perguntado também se o soldado ainda está atuando na Rotam e quais funções ele estaria exercendo atualmente. A reportagem também quis saber se o PM ainda continua portando arma de fogo e perguntou ainda se havia algum Processo Administrativo Disciplinar (PAD) aberto pela Corregedoria para expulsá-lo da Corporação.

Cerca de uma hora depois do enviou das perguntas por e-mail, a assessora de imprensa Priscila Coelho ligou para avisar que a nota da PM já estava praticamente pronta, que em alguns minutos a enviaria por e-mail.

Como não houve resposta, a reportagem de SD voltou a ligar para a assessora nesta sexta (20). Por volta das 14 horas, a assessora alegou que a PM decidiu revisar a nota e que não havia previsão de resposta.

A informação não oficial é que Erivelton foi afastado das ruas após a condenação do último dia 4 de novembro de 2011. Como o policial recorreu da decisão, a Justiça permitiu que ele permaneça respondendo em liberdade até trânsito em julgado do processo. Erivelton foi condenado, por júri popular, a 18 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato de Pedro Nacort Filho.

Caso Pedro Nacort


No primeiro júri dos PMs Erivelton de Souza Pereira e Jeferson Zambalde Torezani, ocorrido em maio de 2009, os jurados “entenderam”, depois de dois dias de julgamento, que não havia provas suficientes para incriminar os policiais. “Aquilo foi um golpe muito duro para mim e para todas as pessoas que me apoiaram nesses anos todos. Tínhamos plena certeza de que as provas eram claras. Eu sonhava em ver os policiais saindo do fórum algemados. Durante dez anos eu sonhei com essa imagem. Na hora acontece tudo ao contrário. Não dá para explicar. A decepção foi muito grande”, conta Maria das Graças.

Maria das Graças não desistiu. Contestou o júri no Ministério Público Estadual, que recorreu e o Tribunal de Justiça acabou anulando o julgamento. A Justiça determinou que fosse realizado novo júri popular, para 3 de novembro de 2011. “Vi, mais uma vez, que a gente não consegue nada na vida sem esforço. Fiquei sabendo que é a primeira vez que o Tribunal de Justiça do Espírito Santo anula um júri a pedido de uma mulher”, disse orgulhosa a militante.

O crime

Pedro, na época do crime, aos 26 anos de idade, morava com a mãe num apartamento na rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória. Era flanelinha, tinha disritmia cardíaca e tomava remédios controlados. A mãe dedicava-lhe intensos cuidados por conta da doença. Maria das Graças já alertava ao filho para que tivesse cuidado com a polícia, que costumava fazer abordagens violentas no Centro.

No dia do assassinato, Pedro saiu de casa pouco depois da meia-noite para comprar cigarros e não voltou. Maria das Graças ouviu seguidos estampidos que pensou serem fogos de artifício. Cerca de 15 minutos depois, policiais a chamaram pelo interfone do prédio para reconhecer o corpo do filho, atingido com 22 tiros, oito deles no rosto.

Maria das Graças, na sua luta incansável por justiça, investigou, reuniu provas e acabou descobrindo o envolvimento de uma mulher com quem Pedro havia rompido um relacionamento dez dias antes do crime, e chegou ao nome de quatro PMs. A investigação identificou pelo menos uma arma usado no crime, que pertencia, de acordo com o exame balístico, e a um dos policiais.

As evidências, as provas técnicas e as contradições apresentadas pelas testemunhas de defesa dos policiais não foram suficientes para “convencer” o júri, que, segundo Maria das Graças, foi intimidado pelos policiais.

Erivelton já respondeu e foi absolvido por três homicídios na Vara de Auditoria Militar. Somente após a Lei Federal 9299/96 é que os homicídios praticados por policiais militares passaram a ser julgados pelo Tribunal do Júri.

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